Como a nutrição pode contribuir para a reprodução humana?

Atualmente é um consenso que o estado nutricional e as ações do estilo de vida dos indivíduos podem impactar de forma muito significativa a saúde como um todo, embora ainda poucas pessoas trazem esse raciocínio para o sistema reprodutivo, tanto feminino quanto masculino. Inclusive, esse é o primeiro alerta que quero fazer. Vejo muitos profissionais propagando estilos alimentares que promovem a perda de peso corporal sem considerar o efeito daqueles alimentos na saúde integral, principalmente dos órgãos reprodutivos. A nutrição vai muito além do peso e do ganho de massa muscular e seu efeito global no organismo atinge todas as células e até na expressão gênica.

Sem contar que no caso da reprodução humana, a principal atenção na investigação e plano de tratamento está centrado na mulher e nas técnicas de reprodução assistida, e muitas vezes o fator masculino não é investigado direito. Vale lembrar que 50% da carga genética para formar o embrião vem do homem, e por isso também é necessário um manejo nutricional para melhorar os parâmetros de qualidade do espermatozoide (motilidade, quantidade e integração do DNA) e otimizando o potencial fértil do casal.

A diminuição na taxa de fertilidade da população mundial e o aumento da busca por técnicas assistidas de reprodução é alarmante, por isso a ciência vem ampliando cada vez mais os estudos nessa área. Hoje sabemos que fatores de estilo de vida podem impactar negativamente o potencial fértil seja do homem como da mulher. Excesso do consumo de alimentos ricos em açúcares, excesso de gordura corporal, xenobióticos, exposição a toxinas, pesticidas, má qualidade do sono, estresse, resistência à insulina, sedentarismo e maus hábitos alimentares contribuem de forma indireta para a piora da saúde dos órgãos reprodutivos, e consequentemente para a piora da qualidade dos óvulos e dos espermatozoides.

A adequação do estado nutricional, associado com estratégias alimentares que foquem no fornecimento de nutrientes específicos e antioxidantes adequados, reduzindo assim a produção dos radicais livres podem ser coadjuvantes no tratamento clínico da infertilidade.  Logo, quando um dos membros do casal necessita de um tratamento para fertilidade é recomendado que ele avalie seu estilo de vida e busque melhorá-lo, independente do peso.

Logo, um casal que possui um estilo de vida saudável possui uma maior chance de gerar um bebe saudável. E essa recomendação é válida para o período pré-gestacional até o segundo ano de vida do bebê, com o intuito de se evitar que ele nasça com predisposições de desenvolver determinadas doenças. As ações que fazemos hoje irão determinar como viveremos no futuro, então se deseja ter uma família saudável, não deixe para amanhã!

Texto escrito pela nutricionista Inari Ciccone, Mestre em Ciências com ênfase em reprodução humana no departamento de Urologia da FMUSP e especialista em obesidade e doenças crônicas pela UNIFESP. Atua com ênfase em estilo de vida e saúde do Homem e reprodução humana no Instituto Androscience e é colaboradora em nutrição no grupo de estudos em Saúde Masculina no IEA – USP.