Alimentação e cálculo renal, qual o link entre eles?

Pedra nos rins, quem já passou por isso sabe a dor e o desconforto que situação tão indesejada causa. É algo tão indesejado que prevenir será de grande valia para o seu corpo. O rim agradece. Descubra como fazer isso com as informações científicas abaixo:

A nefro litíase consiste na formação de pequenos cristais a partir da precipitação de minerais e resíduos da urina no rim. A sua ocorrência tem crescido substancialmente, principalmente nos países industrializados, os quais possuem uma alimentação mais rica em sódio, proteína animal, bebidas adoçadas com frutose e açúcar e excesso de carbonatos e fosfatos presentes nos alimentos processados. Isso leva a uma maior excreção de cálcio, ácido úrico, oxalato e fósforo pela urina, favorecendo ao maior acúmulo e formação dos cálculos no rim ou uretra. A presença de cálculo é assintomática em cerca de um terço dos indivíduos, mas a maioria dos pacientes que possuem sentem dor abdominal, que pode ser confundida com uma dor nas costas, próximo a região da lombar. Dor para urinar, náuseas, sangue na urina e até vômitos também podem ser sintomas.

Além do mais, cerca de 50% dos pacientes que já foi diagnosticado sofrem recidivas dos cálculos entre 5 a 10 anos após. Ou seja, metade das pessoas que sofreram deste mal, sofrem novamente com o passar dos anos. Logicamente, o mais sensato é evitar que essas pedras se formem, com ações que podem ser facilmente implementadas na rotina. A excreção renal de cálcio é principalmente influenciada a partir da dieta. Os dois tipos de cálculos mais relacionados a alimentação são os tipos oxalatos de cálcio e fosfatos de cálcio (a partir da excreção renal de cálcio) e os cálculos de ácido úrico (formados a partir da concentração de purinas). Logo, incluir os seguintes hábitos na sua alimentação pode te ajudar a prevenir disso:

  • Atenção aos alimentos que contenham frutose refinada e sacarose (açúcares presentes em alimentos industrializados). O aumento do uso de sacarose e frutose refinada, especialmente em refrigerantes, biscoitos, sucos, sorvetes e doces, relaciona-se à formação de cálculo através da indução do ganho de peso e dos efeitos renais da frutose, produzindo resistência a insulina, redução do pH urinário e elevação da excreção urinária de cálcio, oxalato e ácido úrico. Fique atento e evite alimentos que os contenham.
  • Cuidado ao utilizar suplementos proteicos e exceder a quantidade de carnes e alimentos proteicos. A dieta do brasileiro é hiperproteica, logo, não temos a necessidade do uso banalizado de suplementos proteicos, salvos com casos de atletas e algumas condições clínicas. O consumo excessivo de proteínas pode aumentar a excreção renal de purinas (aminoácidos), uma vez que o organismo tem um limite de absorção dos aminoácidos, logo ocorre a excreção deles pelo rim na urina. Saiba adequar a quantidade e os tipos de proteínas aos horários de maior necessidade, assim como a combinação/ equilíbrio do prato. Além disso, cuide da forma de tempero e preparo, evitando colocar muito sal e temperos industrializados.
  • Hidrate-se: É sabidamente que devemos beber em torno de 2,0L de água por dia, entre as refeições. Para ser mais exata, essa necessidade pode variar de acordo com o tamanho do indivíduo, nível de atividade, localização que reside, clima, e funcionamento do metabolismo e tipos de alimentos ingeridos, podendo resultar até em 5,0L de água total por dia, sendo a DRI (Dietary Reference Intake).  A ingestão de água corresponde a 80% proveniente dos líquidos (água, sucos e bebidas) e 20% dos alimentos (variando de acordo com a composição da alimentação). O baixo volume de formação de urina é o maior fator de risco para a litíase renal. No entanto, nem todo mundo possui o hábito de se hidratar, ou de ingerir alimentos que contenham água, como frutas, vegetais, sucos naturais, e alimentos in natura. Logo, se você deseja prevenir o aparecimento dos cálculos, ou a sua recidiva, mude esses hábitos. Procure deixar uma garrafa de água na mesa do trabalho, isso ajuda a lembra-lo.
  • Evite alimentos industrializados e processados, como salgadinhos, biscoitos, refrigerantes, sucos de caixinha e em pó, gelatinas, embutidos, alimentos congelados, alguns iogurtes e bebidas lácteas, temperos ricos em glutamato monossódico, adoçantes como sacarina sódica, versões diets, entre outros. Esses alimentos possuem uma quantidade considerável de sais e produtos químicos, que formam os resíduos e são excretados pela urina, favorecendo a formação da pedra. Fique atento a lista de ingredientes descritas nos rótulos, e caso tenha muitos nomes desconhecidos, evite. Trocar embutidos por ovo mexido, aves ou carnes in natura, refrigerantes por sucos naturais sem açúcar, ou água com gás e limão/ laranja espremido, são boas estratégias.
  • Aumente a ingestão de frutas, verduras e legumes. Isso também é sabidamente conhecido, mas nem todos conseguem incluir na alimentação diária. Procure escolher os alimentos pelos benefícios e nutrientes que irão fornecer, e não somente pelo prazer que ele proporciona. Saiba balancear seu prato e aquele prato colorido de fato não é só papo de nutricionista. A maior diversidade de cor favorece a melhor ingestão de vitaminas e minerais, e consequentemente todo o funcionamento do corpo. Além disso, eles possuem mais água, ajudando na hidratação. Quando você passa a comer alimentos mais frescos e in natura, você diminui a ingestão de alimentos processados. Procure tê-los como base das suas preparações.
  • Fortaleça a sua imunidade através dos alimentos, e não com polivitamínicos. Essas cápsulas normalmente suprem 100% das necessidades diárias nutricionais, logo, adicionado ao que você consome pela alimentação, uma boa parte deles serão excretados pelo rim, favorecendo a formação do cálculo. Fique atento na cor, quantidade e odor da sua urina. Os casos que são necessários suplementar devem ser feitos por um profissional adequado.
  • Atente-se na hidratação principalmente durante a prática de exercícios físicos. Para os esportistas, a necessidade de água é aumentada, e deve ser acrescida da necessidade de hidratação diária. Praticantes que não possuem o hábito de se hidratar com água, e faz muito uso de energéticos, suplementos, e bebidas industrializadas aumentam a ingestão de minerais que podem favorecer a formação de cálculo. Fiquem atentos a esse fator. A sede é um sinal de desidratação, ou seja, que você precisar repor a água que perdeu, evite beber água só quando tem sede e melhore ainda mais esse hábito antes e durante a prática de exercícios.

Logo, os detalhes fazem diferença. A recomendação de uma alimentação saudável, equilibrada, menos processada e rica em alimentos naturais e nutritivos não devem ser associadas somente ao peso corporal. Uma alimentação com boa qualidade e valor nutricional, que formam bons hábitos alimentares favorecem muito a nossa saúde, e cada vez mais isso é comprovado pela ciência. Pense nisso quando estiver escolhendo os alimentos que coloca no seu prato, alguns cuidados a longo prazo podem fazer uma grande diferença.

Referências bibliográficas:

  • Diet and kidney Stones from Dietitian/ Nutritionists from the Nutrition Education Materials Online, “NEMO”, Queemsland Governament, Australia 2017. Disponível em:

https://www.health.qld.gov.au/__data/assets/pdf_file/0024/151863/renal_kdnystones.pdf

  • Eric N. Taylor, Meir J. Stampfer, David B. Mount, and Gary C. Curhan. DASH-Style Diet and 24-Hour Urine CompositionClinical Journal of the American Society Nephrology, 2010
  • Michael Greger MD FACLM. Treating kidney Stones with diet. 2017 Disponível em:

https://nutritionfacts.org/2017/06/27/treating-kidney-stones-with-diet/

  • Pachaly MA, Baena CP, Carvalho M. Tratamento da nefrolitíase: Onde está a evidência dos ensaios clínicos?

Texto escrito por Inarí Ciccone. Nutricionista e Especialista em Obesidade e Emagrecimento pela UNIFESP e Mestre em Ciências Médicas na FMUSP, Divisão de Urologia. Atua em consultório com ênfase em Saúde do Homem, Doenças Crônicas Não Transmissíveis, Infertilidade Masculina, além de Nutrição clínica e esportiva.