Existem evidências científicas que recomendam uma alimentação voltada a boa fertilidade no Homem?

A literatura científica mostra que existe uma relação positiva entre uma alimentação saudável e a qualidade do sêmen e do espermatozoide. Neste artigo, vamos explicar um pouco sobre o que as evidências mostram, e como aplicá-las no seu dia a dia.

A infertilidade masculina atinge cerca de 15% dos casais em idade fértil, estimativas indicam que isso corresponde a 70 milhões de casais ao redor do mundo. Pesquisas recentes mostram uma redução do potencial fértil do homem através da piora da qualidade do sêmen. Isso quer dizer que existem fatores que afetam a espermatogênese (processo de reações que produzem os espermatozoides), e a qualidade desta célula, e consequentemente afeta a fecundação do óvulo, trazendo dificuldade para o casal engravidar. Ok, mas o que isso tem a ver com a alimentação? Muito. Fazendo uma breve analogia, para se obter um produto final de qualidade, é essencial que tenhamos uma boa matéria prima, além de um bom processo de produção, sem falhas ou comprometimento na qualidade do produto final. Sendo assim, para o corpo produzir um espermatozoide de qualidade, com boa morfologia e que consiga nadar até fecundar o óvulo, ele precisa de uma boa disponibilidade de nutrientes essenciais e da redução dos fatores que prejudicam sua formação, como os radicais livres.

A infertilidade masculina não é causada por carências nutricionais. Herança genética, uso de drogas (maconha, cocaína), cigarro, abuso de álcool, exposição a agentes tóxicos (agrotóxicos, radiação, alguns produtos químicos, poluição), uso de alguns medicamentos, anabolizantes e obesidade são fatores que podem afetar o potencial fértil do homem. O tratamento dessa patologia é um trabalho minucioso, e consiste principalmente em recuperar a produção do espermatozoide com boa qualidade, capaz de fecundar o óvulo e formar um embrião saudável. Nessa situação, todo detalhe conta muito.

Contudo, as evidências indicam que uma alimentação saudável e equilibrada pode reduzir o risco a piora da qualidade do sêmen. Uma pesquisa realizada no Oriente Médio encontrou uma relação positiva entre o aumento do consumo de frutas e vegetais (especialmente laranja, tomate e verdes escuros), aves, peixes e frutos do mar com um menor risco de o homem ter astenozoospermia (condição que reduz a motilidade do espermatozoide). Os pesquisados também encontram um risco aumentado associado de forma significativa com o maior consumo de carnes processadas (embutidos como presunto, mortadela, salame, linguiça, salsicha, calabresa), doces e laticínios gordos.

Um outro estudo realizado na Espanha, encontrou uma relação positiva entre o consumo de alimentos fontes de vitamina C, licopeno e betacaroteno com a motilidade total e concentração do espermatozoide. Ou seja, o maior consumo de alimentos como limão, laranja, cenoura, abóbora, kiwi, acerola, tomate e espinafre foi relacionado com uma melhora nos parâmetros seminais de concentração e movimento do esperma. Uma outra pesquisa realizada por um grupo de pesquisadores em Harvard mostrou uma piora da qualidade do sêmen com o consumo de alimentos que contenham gordura trans, ou seja, quanto maior o consumo de alimentos como margarina, biscoitos recheados, salgadinhos, cremes tipo chantilly, e alimentos processados em geral, pior é a concentração de espermatozoide no sêmen. Além disso, o maior consumo desse tipo de alimento vem sendo associado a maior produção de radicais livres, que prejudicam a morfologia do espermatozoide. Esse mesmo grupo, em parceria com pesquisadores de universidade europeias, avaliaram o efeito do estilo alimentar mediterrâneo (baseado em azeite, peixes, verduras, legumes e frutas, alimentos integrais e castanhas, e com menor consumo de alimentos processados e carne vermelha) com a função do testículo e a qualidade do sêmen, e eles concluíram que este estilo alimentar foi associado a uma maior produção e concentração de espermatozoides no esperma, e podendo ser relacionado com um melhor potencial fértil do homem. 

Logo, se você está pensando engravidar, fique atento aos seus hábitos alimentares. Pense nesses fatores que informamos acima quando for escolher o que você coloca no prato. Além do mais, consulte um nutricionista especialista nesse assunto para lhe ajudar ter uma alimentação que favoreça o seu potencial fértil. Para finalizar, os mesmos efeitos prejudiciais da má alimentação, e/ou benéficos com o consumo de determinados alimentos impactam também o trato reprodutivo feminino, questão que vem sido estudada na literatura científica de forma bastante expressiva.

Esse texto foi escrito pela Nutricionista Inari Ciccone, que possui linha de atuação na saúde reprodutiva, principalmente masculina.

Inari é especialista em Obesidade e Emagrecimento pela UNIFESP e Mestranda em Urologia com ênfase em Infertilidade Masculina pela FMUSP. Membro do corpo clínico da Clínica Dr Jorge Hallak e atua no centro Androscience.

Referência bibliográfica:

  • Salas-Huetos et al. Dietary patterns, foods and nutrientes in male fertility parameters and fecundability: a systematic review os observational stuies. Human Reproduction, pp. 1-19; 2017.
  • Chavarro et al. Dietary fat an semen quality among men attending a fertility clinic. Human Reproduction, 27(5): 1466-1474, 2012.

http://www.dailymail.co.uk/health/article-3105638/The-healthy-sperm-diet-pomegranate-dark-chocolate-reveal-10-foods-boost-male-fertility-s-time-ditch-coffee.html